O Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial foi aprovado pelo Comitê da Área Interdisciplinar da CAPES em novembro de 2017. O projeto pedagógico do PPG-EPM visa formar profissionais para os setores público e privado, capazes de compreender e enfrentar, a partir de uma perspectiva histórica, regionalmente situada e ao mesmo tempo sistêmica, os grandes desafios do desenvolvimento mundial no século XXI.
O corpo docente se constitui a partir da própria estrutura interdisciplinar da UFABC e das redes de pesquisa de seus integrantes. O grupo traz para o seu objeto de estudo uma diversidade de trajetórias acadêmicas que fortalece a busca de uma dinâmica intelectual inovadora para o campo da Economia Política.
Entende-se que o avanço da interdisciplinaridade, além da estrutura já existente, exige uma estratégia pedagógica e epistemológica proativa para garantir, especialmente, que a produção de conhecimento dê conta tanto da especificidade quanto da universalidade das trajetórias de desenvolvimento dos países do hemisfério Sul, que, como o Brasil, ainda enfrentam grandes desafios.
Entende-se, ainda, que um dos legados mais importantes da Economia Política – a área de concentração do programa – é o reconhecimento de que a análise da vida social, seja nos hemisférios Norte ou Sul, não pode prescindir de um olhar sobre o todo, tornando indissociáveis as dimensões ética, histórica, econômica, política, social, cultural, demográfica e ecológica.
Neste sentido, o corpo docente contribui para um processo de renovação e atualização da Economia Política e agrega-se a um acumulo de iniciativas em escala mundial que, desde as últimas décadas do século XX, tem resultado na fundação de diversos cursos, associações acadêmicas e revistas científicas de Economia Política.
Economia Política é o campo de pensamento que está na origem das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Por anteceder à fragmentação disciplinar do século XX, é também um ponto de partida importante para o estudo interdisciplinar dos grandes desafios do desenvolvimento mundial no século XXI. Os seus legados mais importantes são, primeiro, o reconhecimento de que a análise da vida social pressupõe um olhar sobre o todo, tornando indissociáveis as dimensões ética, histórica, econômica, política, social, cultural, demográfica e ecológica; e segundo, que a transformação da vida social pressupõe análise da materialidade dos processos históricos mundiais e das demandas modernas de desenvolvimento.
Compreende-se como Economia Política o campo de pensamento que se lança efetivamente no século XVIII, buscando compreender as fontes da riqueza, a sua relação com a natureza e o trabalho, e a sua distribuição entre setores e classes da sociedade. Nasce na fase inicial da transição da sociedade agrária à industrial, que, por sua vez, desencadeia uma nova dinâmica mundial, não apenas econômica, mas também social, política, demográfica, ecológica e cultural. A sua força motriz é a transformação da organização do trabalho nos centros econômicos pela mecanização da produção e a construção de uma nova divisão do trabalho entre centros e suas periferias. Ademais, inaugura uma nova relação entre indústria, agricultura e recursos naturais, por exigir a especialização de atividades e a sua reintegração sob o impulso industrial.
O campo da Economia Política evoluiu ao longo do século XX, junto às sucessivas etapas de globalização, embora em concorrência com as tendências de fragmentação disciplinar. Vivenciou um renascimento na segunda metade do século XX, em particular nas academias dos países do hemisfério Sul, em vias de descolonização e desenvolvimento, onde se priorizou o estudo da relação centro-periferia e os problemas do desenvolvimento mundial. Desse modo, a questão do desenvolvimento passou a ser um foco legítimo da Economia Política, que hoje é visto como problema multifacetado, tanto industrial, como agrário, alimentar, energético, ecológico, social, político, demográfico e cultural, e ademais, sujeito a novas dinâmicas sistêmicas mundiais. Atualmente, as áreas de pesquisa em Economia Política são diversas, porém se destacam pesquisas relacionadas à crise alimentar, energética e climática e aos desafios da inovação tecnológica, da industrialização, e da criação de empregos condizentes com a expansão demográfica, assim como as dinâmicas epistemológicas, políticas e culturais, inclusive de gênero e raciais, que marcam as sociedades contemporâneas. São justamente essas as áreas que contribuem à definição das linhas de pesquisa do PPG-EPM.
Na virada do século XXI, o campo da Economia Política vem reconquistando espaço através da fundação de associações acadêmicas, em todos os continentes, da proliferação de periódicos científicos nacionais e internacionais e da construção de cursos de pós-graduação. No diagnóstico do grupo docente do PPG-EPM, é necessário que o campo da Economia Política continue a ser atualizado como estratégia interdisciplinar capaz de dar respostas aos grandes desafios do desenvolvimento mundial no novo século, por superar tanto a mera justaposição de disciplinas quanto o risco de se produzir uma tal fragmentação teórica que dificulte o diálogo e o acúmulo necessários ao processo de produção de conhecimento.
No mesmo diagnóstico, o grupo docente entende que a inovação em Economia Política requer esforços institucionais para que a sua agenda de pesquisa se aproxime aos desafios concretos dos países em desenvolvimento, em geral, e do Brasil, em particular. Tal aproximação exige, além da abordagem interdisciplinar, a valorização da visão sistêmica, para que o desenvolvimento mundial e as trajetórias do Sul sejam concebidos como parte integral de um sistema mundial único. Exige também a valorização do estudo sistemático das regiões do Sul e das suas tradições de pensamento sobre desenvolvimento.